domingo, 22 de março de 2009

Soluções para quem não quer pensar no ATC.

Esforço-me para não parecer satírico, mas quando vejo que o mundo que me rodeia parece não importar-se com o que penso ou deixo de pensar, rebelo-me e rasgo o verbo. Protesto contra a tese de que tudo o que pode ser simplificado é bem-vindo, independente do valor técnico que o justifique. Enquanto isso acontece, o sentido de labor se perde na automação desenfreada. Pensar para que, se a máquina faz isso por mim? Decidir para que, se o sistema decide por mim? Pesquisar por que, se existe um SQL para fazê-lo por mim?
Meus argumentos não se travestem de perguntas por razões filosóficas, mas por pura ignorância mesmo. Digo isso porque não conheço um sistema informatizado que responda judicialmente sobre meus atos na atividade ATC. Não existe um juiz cibernético para ouvir minha justificativa sistêmica quando algo sair errado, ou quando a rotina informatizada trocar o nível do avião sem que eu tenha solicitado ou concordado. Não existe um defensor público com inteligência artificial capaz de amealhar conhecimento e alegar jurisprudência de uma época retrô, onde a informática engatinhava em comPUTAdores ENORMES que ocupavam um prédio inteiro. Enfim, apesar da justiça imputar responsabilidades ao controlador sobre rotinas invisíveis de apoio à decisão, não existe nada no mundo virtual que garanta justiça aos controladores de tráfego aéreo, informatizando as percepções humanas, tampouco o “livre arbítrio”.
Sendo assim, reafirmo: - “Penso, logo digito!”

O fim de uma era. Já era!

A Northrop Grumman Park Air Systems vence contrato turnkey para fornecimento de sistema integrado de comunicações ATC ao Brasil

Refresque a memória: breve histórico

Notícia de hoje: 8 anos depois

Tutti per tutti ! tsc! tsc! tsc!

sábado, 21 de março de 2009

O ATCo no divã do Analista da Informação


Rotinas de Apoio a Decisão – Um remédio perigoso!
Podemos associar a automação generalizada das tarefas que compõem a rotina da atividade ATC com a crescente prescrição médica de drogas controladas que causam dependência ao usuário. Se por um lado tem sido adotada paliativamente para contornar crises, por outro esconde efeitos colaterais imprevisíveis e que a pesquisa laboral ainda não conseguiu pontuar. Sabidamente os efeitos mais comuns aos usuários são: dependência, complacência com situações de risco; falta de iniciativa; confusão de raciocínio e stress. Por mais que sejam analisadas ergonomicamente nos estudos IHM, as rotinas de apoio à decisão incorporam aos serviços executados em tempo real riscos que só serão revelados no decorrer de sua aplicação prolongada. Torna-se difícil conseguir respostas através da simulação de todas as possibilidades operacionais diante da imensa gama de variáveis encontradas no desempenhar da função. Fatores como a qualidade da infra-estrutura aeroportuária, variações climáticas, degradação de equipamentos e sistemas que compõem o conjunto, interferências externas como medidas gerenciais do CGNA podem causar vetores contrários ou efeitos cruzados que fogem dos objetivos estipulados nas arquiteturas desses sistemas. Se por um lado as tarefas que se realizam automaticamente disponibilizam mais tempo ao ato de controlar, por outro agregam a essa transparência a "dúvida entre uma decisão acertada e uma mais ou menos acertada". Atualmente os pesquisadores de gerenciamento e controle de tráfego aéreo, utilizando-se dos princípios da Tecnologia da Informação, buscam decifrar o peso e a importância de cada tarefa que circunda o personagem chave de todo o sistema aeroportuário: “o ATCO”. A atividade desse personagem, cuja característica é interagir com elementos em tempo real, é riquíssima em dados muito importantes ao gerenciamento, quer seja de aeroportos ou de empresas aéreas, de serviços aeroportuários como catering e reabastecimento de aeronaves, ou ainda de um grande complexo de navegação aérea. O Brasil, por conta de sua vasta extensão geográfica, e ao contrário de muitos países do primeiro mundo de modesta área territorial, apresenta uma necessidade individualizada de resolver seus próprios problemas de gerenciamento. Pode-se constatar que o crescimento do movimento aéreo doméstico se projeta na mesma proporção de suas dimensões territoriais. A crise mundial que vem fazendo recuar o crescimento da aviação civil internacional, teve seus efeitos minimizados no Brasil, que contrariando as tendências mundiais continua em ascensão, ainda que com índices menores do que o esperado. Ao analisarmos a atividade ATC, que tem por objetivo manter a segurança e o fluxo de tráfego aéreo rápido e ordenado, veremos que, impor mais tarefas ao controlador desviaria esse foco, e qualquer incremento nessa atividade “multitarefa” aumentaria consideravelmente sua carga de trabalho. Mas como explorar essa valiosa informação em tempo real sem causar um impacto na atividade ATC? A assertiva - “O aumento da Carga de Trabalho é inversamente proporcional ao índice de Segurança e Qualidade” - fica evidente quando nos aprofundamos nos estudos ergonômicos e de fatores humanos na aviação. Muitas propostas foram apresentadas como solução do problema, mas posso afirmar, no entanto, com conhecimento de causa, que poucas tiveram êxito em extrair essa importante matéria prima sem impor mais uma componente ao rol de tarefas do ATCO. A solução da empresa “Saipher ATC”, por exemplo, tem se destacado no aproveitamento total desses registros gerados pela operação do ATCO, atendendo as necessidades atuais do sistema aeroportuário e disponibilizando a interação total com as aplicações futuras via Data Link. O conceito “TATIC – Total Air Traffic Information Control”, originário da evolução tecnológica do consagrado SGTC – Sistema de Gerenciamento de Torre de Controle, racionaliza as atividades rotineiras do controlador e dessa automação capta registros preciosos ao planejamento, coordenação e gerenciamento do momento aeroportuário. Todo esse processo de filtragem de informação, endereçamento de dados, estatística, destinação tarifária, fiscalização e regulação, tramitam de forma invisível durante a atividade de controle do tráfego aéreo. Vale ressaltar a importância da transparência da automação ATC aos olhos do controlador, pois disponibiliza mais tempo para desempenhar sua atividade fim, porém, devemos zelar para que as “rotinas de apoio à decisão” só sejam efetivadas mediante o aval decisivo daquele que controla.
Se manter a vigilância no processo de automação ATC é a grande preocupação de quem desenvolve sistemas, então não posso deixar de vestir essa camisa.

Mário Celso Rodrigues
Controlador de Tráfego Aéreo
Analista Aeronáutico ATC/ATM

Eu poderia estar roubando, matando ou me prostituindo, no entanto estou sendo apenas um controlador pró-ativo.


Certa vez, sacolejando no ônibus Torre - Centro via APP, pude presenciar um fato inusitado que me surpreendeu. Apesar de ser comum encontrar aqueles personagens que no auge do desespero inovam formas de comunicação para vender idéias, deparei-me com um exemplar muito diferente. Entre gestos apelativos e uma oratória desconcertante, o indivíduo que se apresentava como controlador de tráfego aéreo clamava pela atenção de todos. Sua fala era chorosa, como se quisesse agregar a cada palavra dita um juramento de veracidade. “Alguém” muito especial um dia disse a Tomé - “Bem-aventurados aqueles que crêem sem ver”- mas se já é difícil pregar àqueles que não vêem, imaginem àqueles que, além disso, não conhecem e não querem ouvir? Mas ainda assim tentava:

- Nós temos um sistema de visualização RADAR que faz a varredura em síntese e num concentrador compila os dados dos radares para unificar a imagem digitalizada, agregada a um transponder que fornece dados referentes ao vôo. Quando um desses radares falha, acarreta blá blá blá...

- Nos temos deficiência de idioma, pois trabalhamos com aviação internacional e piriri pororó...

Depois de 15 minutos ininterruptos de pregação, o pessoal do ônibus, incomodado com aquele “papo de Pa-tro-pi”(sei lá, entende?) já começava a dar sinais de cansaço. E um burburinho se formava no coletivo, mas ele insistia.

- Nós temos também um sistema gerenciador de comunicações que cai quando menos se espera. Apesar do conceito “tutti per tutti” esse sistema não passa de tutti per niente, pois trololó e tralalá...

-CHEGA MANO!

- E por falar em tutti per tutti, temos aqui também “chicrets” de tutti-frutti e hortelã a um real e também trufas da Mike Mike, canetinhas do Volney, cocada do Alves, doce de goiaba do Bemildo, sanduíches “nojentinhos”do Bonk, ...

- AE COMPANHERO! AGORA MELHOROU!
- EU QUERO UM!
- ME DÁ UM NOJENTINHO SEM ALFACE!
- UM PRA MIM TAMBÉM!
- ME DÊ 5 TRUFAS!
- ESSA CANETA É DA CHINA É?
- SE EU COMPRAR A CAIXA INTEIRA VOCÊ PROMETE QUE CALA A BOCA?

Ta vendo? Isso é que é ser pró-ativo. Isso é que é inovar. Vamos descrever o que é o tráfego aéreo para aqueles que não podem ver. Vamos explicar o tráfego aéreo para quem não quer ouvir. Vamos repetir a ladainha até que a população entenda nosso penar. Mas se ainda assim não entenderem, pelo menos irão nos pagar melhor para que calemos a boca.
Eu poderia estar roubando, matando ou me prostituindo, no entanto estou sendo apenas pró-ativo.
Por Celso Bigdog