sábado, 26 de junho de 2010

Até onde a vista alcança?

O editor de um noticiário reproduziu uma frase pouco técnica e desnecessária, dita por um “pseudo especialista”, sobre a ocorrência airprox reportada pela TAM nesta semana: "Um dos aviões estava no lugar errado". O fato de o Sr. Mauro Gandra ter sido ministro não o credencia a falar sobre controle de tráfego aéreo, muito menos a vender conclusões, mesmo acreditando que o controlador não tenha contribuído para o incidente. Leigos falando com tanta propriedade na mídia levam o cidadão a questionar a real necessidade do SIPAER. Para que CENIPA se temos esses “ESPECIALISTAS” que, ostentando seus crachás vitalícios de majestade, antecipam as conclusões, atropelam as investigações e apresentam seus soberbos vereditos. Se analisarmos os problemas do transporte aéreo hoje, encontraremos, com certeza, mais gente no lugar errado do que aviões.
Nenhuma verdade existe numa ocorrência de controle de tráfego aéreo antes que se tenha a palavra do humilde controlador. É do front que chegam informações que alimentam a investigação e essa verdade se acentua em se tratando de uma torre de controle, porque, quer queiram ou não, em termos de tráfego aéreo, só dali se pode enxergar além do horizonte sem tirar os pés do chão.
Celso BigDog

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Manobra de avião com 171 passageiros evita tragédia

Que me desculpe o controlador envolvido na ocorrência, mas, apesar dessas manchetes mal formatadas, cheirando a sangue, prefiro que essas questões sejam levadas a público agora, enquanto ainda há tempo para mitigar a deficiência da infraestrutura aeronáutica e aeroportuária, e suprir os recursos humanos. Não podemos nos iludir com declarações sobre aumento de efetivo. Na verdade, quando anunciam que novos controladores estarão se formando no ano, omitem a informação de quantos estarão se aposentando e quantos mais sairão para carreiras alternativas nesse mesmo ano. Se tanto no grupo de proteção ao voo quanto no de aeronautas já se observa essa insuficiência hoje, o que dizer no furor da Copa 2014 e Olimpíadas 2016?
Além disso, a maior preocupação quando se fala em RH não é com a quantidade de profissionais, mas sim com a qualidade técnica deles. Ainda que no controle de tráfego aéreo já se alardeie que foi atingido o número de controladores necessários ao preenchimento das posições operacionais instaladas, suportar a demanda com segurança é outra história. Da mesma forma, o grupo de tripulantes vem sendo abastecido hoje com profissionais recém formados, com baixa experiência e, o que é pior, gerenciado por comandantes cada vez mais novos.
Mas fique calmo. Com minha larga experiência em controle de tráfego aéreo, posso garantir que, também morro de medo de viajar de avião.
P.S. Assim disse um jornal: -“Entre os tripulantes estava o senador Romeu Tuma (PTB-SP).” Poxa, ele foi Comissário de Polícia ou de Comissário de Bordo?
Celso BigDog

terça-feira, 22 de junho de 2010

Controlador de Tráfego Aéreo pensa, logo existe.

Passado o período de filiação partidária e candidaturas para o pleito deste ano, sinto que, uma vez mais, perdemos a chance de buscar uma cadeira que dê voz ao controlador de tráfego aéreo no cenário político nacional. Mas sou condescendente com a classe, pois são tantos os percalços que isso é plenamente compreensível. Para dizer a verdade, a confusão de valores morais que se instalou no País dificulta o entendimento do que é fazer política. Exercer a cidadania em sua plenitude chega a ser um pensamento utópico, até porque a condição militar castra qualquer iniciativa de levar a voz da caserna ao Plenário.
Mas, se um dia você se enveredar por esse caminho, dentro dessa idéia de renovação de que tanto falamos, quer seja como candidato, quer seja como articulador atuando nos bastidores, esteja atento a alguns requisitos. Não alardeie seus conhecimentos, sua educação, sua cultura, pois isso pode soar como uma “ameaça da elite dominante”. Preferencialmente alegue que há pouco tempo atrás tinha uma mera alfabetização funcional. Omita que nasceu numa grande capital, e ressalve que foi criado no interior do país, numa palhoça de um lugarejo que ninguém nunca ouviu falar. Ter passado fome também é um forte argumento. Se branco, não se esqueça de citar que o seu tataravô era afro-descendente e que se casou com uma índia pega a laço na beira de um rio. Caso tenha antecedentes criminais, exalte seus feitos, sua condição de ex-exilado, ex-terrorista, ex-assaltante de bancos ou que pelo menos, no passado, conspirou contra a Nação e que cometeu delitos indizíveis até mesmo sob tortura, mas veja bem, diga isso “rindo”. Se nunca foi preso, trate de arrumar uma cadeiazinha para melhorar seu escore. Lembre-se de dizer também que, no mínimo, se considera um alegre “S” do movimento GLS brasileiro. Tudo isso pesa a seu favor na busca por um lugar ao sol, pois caso contrário meu amigo, terá de competir com a esmagadora maioria da população brasileira, que luta com unhas e dentes por uma mísera vaga na universidade ou no mercado de trabalho.
Não, não é exagero. Se observar criteriosamente verá que a ética agoniza e a moral desanda aos pés dos formadores de opinião. A tolerância à incompetência administrativa em todos os segmentos públicos é complacente, perniciosa e dissimulada. A Constituição Federal do Brasil, que foi criteriosamente redigida, sofre com interpretações de conveniência, entupindo a Corte Suprema com recursos extremos, e o que deveria apenas garantir o respeito à exceção, coloca essa condição anormal como regra. O Estado ao proteger demagogicamente as minorias, se esquece de legislar em prol da maioria. Quero ter o direito de comemorar o “Dia do Orgulho Hetero”, mas não posso. Quero usar, sem retaliação, uma camiseta com os dizeres “100% Branco”, mas não posso. Quero ter um feriado relativo ao “Dia da Consciência Branca, Amarela, Parda”, mas não tenho. Quero poder comemorar o dia do “Cara Pálida”, mas não posso. Quero poder participar, sem ser molestado, de um comício em prol das “Indiretas Já!”mas não posso. Quero poder proteger com vigilantes armados minha propriedade rural das invasões bárbaras, assim como fazem os banqueiros em suas agências bancárias, mas não posso. Quero ver aquela família enlutada, que perdeu seu chefe num covarde assassinato, recebendo a mesma indenização que a família do facínora preso recebe, mas não vejo. Quero ver o pai de família, que sai de casa em busca de trabalho, ter o mesmo apoio de ONGs e do Governo que o ex-presidiário tem ao sair da cadeia, mas não vejo. Quero, ao pagar meus tributos religiosamente em dia, ter as mesmas vantagens dos inadimplentes, com prestações recalculadas a perder de vista, com perdão de multas e com 50 por cento de desconto, mas não tenho. Quero poder levar meu filho no local de trabalho, para que ele me ajude com pequenas tarefas e tome gosto pelo lavor, mas a “Lei da Infância e Juventude”, hipocritamente interpretada, proíbe o “Trabalho Infantil”, no entanto, permite que artistas nasçam no picadeiro, cresçam em frente às câmeras, aos microfones, nas telas do cinema e da televisão. Quero poder praticar minha cidadania começando por saborear o artigo 5 da Constituição Federal que diz...
<< Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes... CF >> ... mas não posso!

Das duas uma, ou o Estado Brasileiro se mostra capaz de zelar pelas garantias constitucionais do cidadão comum, ou estende de forma igualitária a todos os brasileiros os mesmos direitos que garante ao “cidadão incomum”.

Pois é... se um controlador de tráfego aéreo pensa, por que ainda não existe?
Celso BigDog

domingo, 20 de junho de 2010

Transcendendo o ATC.

Um típico dia ensolarado de domingo, mas o vento forte que assoviava nas frestas da janela da sala já dava idéia da tempestade que não tardaria a chegar. Do edifício onde moro pude ver no horizonte a aproximação das negras e ameaçadoras nuvens. Corri para fechar as vidraças dos demais cômodos e notei, do outro lado da rua, o vizinho que inocentemente preparava o quintal da casa para um churrasco em família. Coitado! Ele não podia ver o que se aproximava por trás de sua casa, nem podia sentir o forte vento, pois o edifício vizinho o bloqueava. Pensei em avisá-lo, alertá-lo para que não tivesse de correr da chuva, mas optei por fechar a cortina e deixar que as evidências o fizessem perceber por si só.
Algum tempo depois, no intervalo do jogo da Copa, incomodado com silêncio que dominava o ambiente, voltei à janela. A tempestade que ameaçava desabar passou ao largo. Abri as vidraças e cortinas e deixei entrar o sol que já se elevava e aquecia a brisa típica de João Pessoa. Olhei para o outro lado da rua e lá estava o vizinho feliz junto à sua família. A churrasqueira fumegante e o cheiro delicioso da boa carne dividiam o espaço com as crianças que corriam de um pequeno cão em volta do jardim. O dia nunca esteve tão perfeito para uma reunião como aquela. Um olhar camarada e um aceno sorridente vieram em minha direção completando o quadro. Retribuí o gesto, fechei a cortina e entrei.
Tenho acompanhado com preocupação e criticado o desenrolar do transporte aéreo brasileiro para suportar os megaeventos que se aproximam. Mas preocupar-me por que, se os gestores responsáveis pelas medidas inadequadas do passado já se foram? Se aqueles que deixaram de tomar as providências necessárias também já se foram? Diante da incapacidade e da inércia administrativa, da ganância das empresas aéreas e do jogo de interesse político partidário que dilapidou a infraestrutura aeroportuária brasileira, só nos resta fechar as janelas por uns tempos e torcer para que a tempestade passe ao largo.
Acredito que não haja mais tempo para soluções concretas, pois agora só nos resta correr da chuva, se ela vier. A vergonha a gente esconde sob a imensa lona da negligência. Com um pouco de criatividade, distrairemos o turista estrangeiro com lindas mulheres seminuas a sambar desvairadamente no checkout, e eles nem notarão que até a lona tem remendos.
E para terminar não me sentindo omisso, recomendo ao grupo de controle de tráfego aéreo reestudar e treinar exaustivamente os procedimentos defensivos e de degradação de sistemas ATC/ATM vigentes, de maneira que, principalmente nesse período, o controlador não fique exposto às incompreendidas falhas sistêmicas escritas "por aquele homem de um braço só!"

Gargalo? Que argumento antigo! Hoje a aviação civil brasileira não tem gargalos, pois ela mesma tornou-se, indiscutivelmente, um dos maiores gargalos no desenvolvimento do País. E sabe de uma coisa, esse papo de gargalo dá uma sede...
Celso BigDog