domingo, 17 de abril de 2011

Vetorando o próprio destino.

Por mais que se tente fazer comparações comportamentais praticadas entre organizações civis públicas ou privadas e a disciplina na caserna, fica difícil estabelecer parâmetros numa mesma escala para demonstrar a imensa disparidade entre elas. Em 1893 Moniz Barreto, em sua carta ao Rei de Portugal, já descrevia particularidades da vida militar: “... como se alguma coisa houvesse mais cara que a servidão."
Militares permanecem leais ao seu juramento, regulamento e ordens. Do juramento fazem valer o uniforme e as insígnias que os distinguem. Do regulamento o seu livro de cabeceira. Das ordens recebidas, fidelidade não se espera. Fidelidade é de foro íntimo, que tanto pode fazer vibrar de prazer quanto ranger os dentes de ódio. Mas ainda assim cumprem silenciosamente a missão com honra e lealdade.
Essa introdução se fez necessária para justificar uma situação que vem sendo alardeada pela mídia e encarada como fenômeno, mas que não passa de mero efeito da servidão, lealdade e fidelidade. No auge da crise que se instalou em 2006 entre o comando e o quadro de subalternos ATC, que há anos vinha dando sinais de que as coisas iam de mal a pior, controladores ávidos por uma atitude que justificasse ou se solidarizasse com suas dificuldades, recebeu como resposta a orientação:
- “A porta da rua é a serventia da casa. Quem não estiver contente que saia”.
Para não dizer que o feitiço virou contra o feiticeiro, ainda que seja doloroso aventurar-se por outras paragens, abrindo mão da estabilidade do serviço público, saindo sem um centavo de FGTS que assegure o bem estar da família durante o período de transição, muitos controladores seguem obedientes às orientações recebidas e procuram a porta da rua na esperança de encontrar uma carreira profícua com uma profissão regulamentada e respeitada. Com o esvaziamento das fileiras, o assunto vem sendo tratado pela mídia como algo inexplicável e com o verbete “evasão” sendo empregado equivocadamente quando na realidade quer expressar “êxodo”.
Ao sistema responsável pelo controle do espaço aéreo restou a corrida para suprir o quadro esvaziado pelas aposentadorias, pelos afastamentos administrativos e principalmente pelas baixas daqueles que descobriram que a instituição, apesar de suas sólidas diretrizes, muda de rumo a cada novo comando. Percebendo isso o controlador de tráfego aéreo, acostumado a definir proas e altitudes na aviação, procura agora traçar um plano de carreira e vetorar seu próprio destino no rumo de sua conveniência e em nível compatível à sua verdadeira capacidade.
Valor Econômico: Evasão de controladores preocupa.

Resposta CECOMSAER ao Valor Econômico: "Com relação à matéria "Evasão de controladores preocupa", publicada na edição de quinta-feira, 14/04, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica esclarece: Controladores

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Agora sim! A Aviação Civil Brasileira dá uma guinada de 360 graus.


O mundo gira, gira e as medidas adotadas para sanear os óbices do parque aeroportuário acompanham esse movimento. Tão certo como o nascer do sol a cada dia, os problemas persistem em acompanhar.
Especialistas e estudiosos das mais altas esferas acadêmicas debatem o assunto tentando, entre um e outro fórum, bamburrar boas ideias entre cascalhos e parvoíces e delas alinhavar projetos e teses, como se apenas os documentos existentes pudessem balizar e dar forma à verdadeira face do problema. Na verdade ninguém quer resolver gratuitamente uma questão estrutural. É sempre bom ter um forte argumento para vender ou dar luz ao seu marketing pessoal. A mídia se farta com essas notícias requentadas, sensacionalistas ditas por um “Doutor”, ainda que desprovidas de qualquer conteúdo novo, revolucionário ou científico, coisa que qualquer controlador de tráfego aéreo ou piloto está cansado de saber há mais de 20 anos.
Tive o tremendo desprazer de ler em um desses fóruns, alguém, que infantilmente se julga parte da plêiade, quando questionado sobre a necessidade de experiência em aviação para compor o quadro de gestores, citar -“deixe que o passado apodreça”! Não considerei um caso pontual, pois além dos demais “listeiros”, os mortais, até mesmo os mestres, doutores e PHDs se calaram.
Quanto ao atraso na adequação do sistema aeroportuário para atender a demanda que já se apresenta maior que a capacidade de absorção do tráfego aéreo, sem contar com os eventos esportivos que se aproximam, o que há de novo nisso?
Com as medidas adotadas, a criação da Secretaria, que é Ministério, que tem um CEO, que é um ministro, saiu da inércia. Sob a batuta da recém-criada autoridade olímpica a agência reguladora da aviação e a infraestrutura aeroportuária continuarão sendo subjugadas em sua soberania gerencial pela vontade político-partidária desse novo organismo.
O cidadão brasileiro não está interessado em saber de quem é a responsabilidade do mau serviço prestado nos aeroportos. Clama por mudanças imediatas. É bem verdade que o meio aeronáutico saiu sim da inércia, mas para um movimento circular uniforme, onde hoje é replay de ontem que certamente se repetirá amanhã.
É bom que o Governo Federal tenha um pouco de bom senso e aproveite o conhecimento adquirido ao longo de 100 anos da aviação brasileira, antes que, como disse certo aero-neófito, “o passado apodreça” e então seja tarde demais.
A propósito, será que o Ministro/CEO da Secretaria aceitou a "missão" recebendo proventos de ministro?
Celso BigDog